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Página inicial > Observ noticias > Apertem os Cintos: A Matéria Escura Sumiu
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NGC 1052-DF2 é uma galáxia a 65 milhões de anos-luz, localizada em um grupo dominado por uma galáxia elíptica massiva chamada NGC 1052. NGC 1052-DF2 é uma gláxia peculiar: apesar de ter um tamanho comparado ao da Via-Láctea, é tão difusa que permite que galáxias muito mais distantes sejam observadas através dela e é a primeira galáxia de seu porte a não apresentar evidências da presença de matéria escura.

A imagem acima foi capturada pelo telescópio espacial Hubble em 16 de Novembro de 2017 utilizando o instrumento Advanced Camera for Surveys. [imagem: NASA/ESA e P. van Dokkum (Yale University)]

 

Enquanto os dinossauros atravessavam seus últimos momentos no planeta Terra, a sutil galáxia NGC 1052-DF2 enviou sua luz pelo universo em nossa direção. Após 65 milhões de anos, sua imagem quase fantasmagórica é finalmente detectada pelo Dragonfly Telephoto Array - um sistema robótico de observação baseado num conjunto de teleobjetivas fotográficas otimizado para detectar objetos extensos e de baixíssimo brilho de superfície - e em seguida estudada pelo telescópio espacial Hubble e pelos telescópios terrestres Gemini Norte e Keck.

Situada em um aglomerado de galáxias dominado pela gigante NGC 1052, a NGC 1052-DF2 tem idade estimada em 10 bilhões de anos de idade e tamanho parecido com o da nossa galáxia e lembra uma esfera de estrelas, porém tão rarefeita (200 vezes menos estrelas do que a Via Láctea) que chega a ser quase transparente, permitindo que se observem galáxias muito mais distantes através dela. A galáxia mostra-se tão diferente de todas as outras já observadas que, segundo o pesquisador chefe da descoberta, é como se ela estivesse incompleta.

Mas apesar de todas as peculiaridades, o que mais chama a atenção na NGC 1052-DF2 é que aparenta ter centenas de vezes menos matéria escura do que o esperado, isso se tiver alguma.

A matéria escura não emite nem interage com nenhum comprimento de onda da radiação eletromagnética, sendo invisível aos telescópios que operam em ondas de rádio, infravermelho, luz visível, ultravioleta, raios x e raios gama. Não é composta de partículas bariônicas (prótons e nêutrons) como a matéria convencional e só é detectada através de interações gravitacionais. Desde o século 19, astrônomos recorrem à existência da matéria escura como uma explicação para alta velocidade com que as estrelas orbitam as galáxias. A Segunda Lei de Kepler estabelece que a velocidade de translação das estrelas deve decair em função da distância ao centro da galáxia. Isto não é observado.

Segundo o modelo que atualmente melhor explica estes efeitos que desafiam a física "convencional" observados nas galáxias, a matéria escura pode ser interpretada como um tipo de matéria ainda desconhecido, atuando como uma "cola invisível", necessária para dar forma às galáxias e ao universo.

Ou pelo menos era o que se observava: análises indicavam que as galáxias continham até 5 vezes mais matéria escura do que matéria "comum" (também conhecida como toda aquela matéria que vemos, tocamos e da qual somos feitos :] ).

A falta da matéria escura observada agora levanta a questão: Seria a NGC 1052-DF2 uma galáxia tão rara cujo processo de formação ainda é desconhecido? Devemos aperfeiçoar o modelo atual da interação da matéria escura com o restante do universo?

Por mais contraditório que possa soar, a falta de matéria escura neste caso pode ser a prova de sua própria existência, indicando que o que chamamos de "matéria escura" não poderia ser apenas um efeito ainda incompreendido causado pela grande quantidade de massa nas galáxias, mas sim um elemento que existe no universo e é independente da matéria comum.

Os resultados do estudo da equipe liderada pelo astrônomo Peter van Dokkum, da Universidade Yale, foram publicados na edição de 28 de Março de 2018 da revista Nature.

por: Natália Palivanas [Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.]
www.cdcc.usp.br/cda
twitter:@nataliawho_

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