Supernovas são colossais explosões de estrelas que se encontram nos estágios finais de sua evolução e estão entre os eventos mais energéticos conhecidos no universo.
O pico de luminosidade de uma supernova pode equivaler ao brilho total de uma galáxia inteira, o que permite que sejam detectadas a distâncias da ordem de milhões de anos-luz ou mesmo que se tornem visíveis à luz do dia quando ocorrem em nossas vizinhanças. No ano de 1054 uma supernova foi observada por astrônomos chineses, japoneses e árabes. Os relatos indicam que a estrela atingiu brilho comparado ao planeta vênus tornando-se visível à luz do dia por três semanas e continuando visível no céu noturno por dois anos. Os restos da supernova de 1054 formaram a Nebulosa do Caranguejo (M1) e pode ser observada mesmo por pequenos telescópios na constelação de Touro.
Conhecer o comportamento das supernovas, sobretudo nos instantes iniciais após a explosão, fornece ferramentas importantes para entender os mecanismos da evolução. O desafio reside no fato de que supernovas são eventos não apenas raros, mas também imprevisíveis. É impossível saber onde ou quando uma irá surgir. Mas apesar da existência de iniciativas profissionais dedicadas a varrer o céu em busca de transientes, como o projeto ASAS-SN (All-Sky Automated Survey for Supernovae) que se aproxima da marca de 650 supernovas descobertas, coube a um astrônomo amador argentino a façanha de ser o primeiro a fotografar este instante raro: o primeiro espasmo de uma supernova.
Astrônomos profissionais e amadores varrem sistematicamente o céu em busca de supernovas, mas não era essa a intenção de Victor Buso na noite do dia 20 de Setembro de 2016. Buso estava testando uma nova câmera de astrofotografia em seu telescópio de 16 polegadas capturando uma sequência de imagens da galáxia espiral NGC 613. A prática de capturar imagens em sequência é comum na astrofotografia e faz parte do processo conhecido como empilhamento de imagens, que consiste em combinar várias imagens de curta exposição produzindo uma única imagem final que reduz o ruído e aumenta o nível de detalhes em fotos astronômicas. Ao analisar a sequência de imagens capturadas da NGC 613, Buso percebeu a súbita aparição de uma estrela.
A descoberta de Buso foi reportada à União Astronômica Internacional e em seguida confirmada por observadores profissionais, recebendo a designação SN 2016gkg. A supernova em NGC 613 seguiu sendo observada e estudada por pesquisadores do Instituto de Astrofísica de La Plata (Argentina), do Caltech (EUA), Universidade da California (Berkeley- EUA), Universidade do Arizona (EUA), Observatório Nacional do Japão e outras instituições ao redor do mundo.
A descoberta e os resultados dessas observações aparecem no artigo publicado na edição de Fevereiro de 2018 da revista Nature que traz Buso como co-autor, ao lado dos pesquisadores profissionais que estudaram a SN 2016gkg.
Mas a participação do cidadão comum na ciência não se limita a astronômos amadores descobrindo novos objetos em seus observatórios particulares. O volume gigantesco de dados produzidos por telescópios profissionais e missões espaciais demandam um crescente esforço para sua análise, exigindo muito mais mão de obra que a disponível na comunidade científica. É aí que entra a colaboração do cientista cidadão. Que tal você mesmo ajudar a identificar a estrutura interna de galáxias através da iniciativa Galaxy Zoo utilizando dados do projeto MaNGA (Mapping Nearby Galaxies at Apache Point Observatory/Mapeamento de Galáxias Próximas no Observatório Apache Point)? Ou quem sabe processar em seu computador as imagens enviadas pela sonda Juno direto da órbita de Júpiter? Ou mesmo encontrar planetas e anãs-marrons além da órbita de Netuno nas imagens da missão da NASA Wide-field Infrared Survey Explorer (WISE) através do projeto Backyard Worlds?